quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Negro

Escrever sobre a tristeza do que se perde é sempre muito ingrato. Quando não se é um escritor, quando não se augura a ser um mais difícil é por uns dedos a tocar em teclas e passar para um ecran o que se passa cá dentro.

A questão é que neste Domingo, arderam as minha matas.
As mesmas que há quinze anos atrás tinham ardido, e onde há quinze anos atrás eu vi a minha vida em perigo rodeado por um fogo veloz.
Quando passam as imagens na TV - como as de Pedrogão ou deste fim de semana - não vejo, afasto-me.
Nunca ninguém repara. Apenas acham que não tenho opinião formada sobre o assunto. E mantenho-me calado ouvindo as acesas revoltas populares.
Cobardia?
Sim muita.
Muito medo também.
Mas a dor de há quinze anos atrás é sempre reavivada quando vejo o fogo dantesco consumir vidas e memórias. E o negro volta aos meus olhos e à minha alma.

A vida continua, claro está, consome-nos, amanhã estou a entrar num avião todo eu sorridente para mais umas férias...
Mas o olhar por detrás dos óculos da moda,
                                está negro como nunca.



4 comentários:

  1. Infelizmente temos que mudar tudo. Onde moro já não arde desde 2003. De lá para cá, já cresceu tudo... e estamos todos à espera do incêndio... porque sejamos francos e honestos... vai voltar a arder tendo em conta as alterações climáticas e um sistema de protecção civil que nunca funcionou. Não devia de ser assim, mas é.

    Muita força, para ti miúdo. Sei perfeitamente o que é ter um incêndio à porta de casa e o desespero que nos invade.

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  2. Não é fácil ouvir tantos opinantes que se acham os melhores, quando nunca passaram por uma situação dessas... Estar dentro de um tanque com água e ver toda uma vida a desaparecer... Nada ficar... É muito triste mesmo...

    Grande abraço e como te compreendo

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  3. Este tipo de memórias nunca se apaga realmente mas vai-se atenuando com o tempo.
    Quem já esteve de frente a um "tornado " dantesco sabe a impotência que nos assola nesses momentos. No entanto é como dizes , apesar de todas as tragédias, a vida continua ...

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