sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

O egoísmo transgénero

Li no Silvestre que ele achava que Lili tinha sido egoísta com a sua mulher Gerda, não a compreendendo e só pensando nela própria. A análise do Silvestre julgo que se remete apenas à acção do filme e não, como é óbvio, em relação aos transgéneros.
Mas o Silvestre, homem perspicaz como é, foi bater num ponto muito sensível: o putativo egoísmo destas pessoas. 

Ao acompanhar inúmeros casos transgéneros apercebi-me que este tópico é muitas vezes abordado.
Nos casos transgénero, quando é aberta a caixa de Pandora não há retrocesso e certamente não há pausas. 
Não há pausas para pensar melhor, não há travões porque os que nos rodeiam precisam do seu tempo e de encaixar informação, não há hesitações porque na cabeça do transgénero tudo está bem definido.

Gerda queria ter tempo. Queria manter o seu marido por quem se apaixonou. 
Queria parar. Quem sabe voltar atrás.
Lili queria correr contra o tempo. Queria ser uma nova pessoa. 
Queria ser aquilo que finalmente tinha percebido ser: uma mulher.
Por várias vezes ouvi familiares de trans pedirem-lhes tempo.
Por várias vezes ouvi trans cansados de estar há muito tempo num corpo errado.
Quem tem razão?
A meu ver a natureza já foi demasiado injusta para aquelas pessoas. 
Eles não querem o tempo do passado nem o do presente.
Querem o tempo do futuro.
E rápido!







5 comentários:

  1. Para ser franco nunca pensei no egoísmo dos transgéneros. Acho que a Lili era egoísta (e apenas no filme, porque a história real da personagem é diferente). Há uma série que se chama Botched e que consiste em corrigir operações plásticas que correram mal. Os transgéneros são das vítimas mais frequentes de cirurgiões sem escrúpulos. E tenho visto imensas pessoas de uma generosidade enorme. É verdade que querem aquela mulher que sabem que são por dentro o mais rapidamente, mas isso não significa egoísmo. Para mim egocentrismo é diferente de egoísmo. Não acho que os transgéneros sejam egoístas per se. Acho que há pessoas egoístas para com aqueles que sempre os nutriram, sejam transgénero ou não. E não gosto disso e tenho vontade de lhes dar uma marretada na cabeça.

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    1. Estou a lembrar-me do caso mais recente, em que a irmã mais nova, com 13/14 anos (portanto já com idade para pensar) recusava a aceitar a mudança, porque queria, que a irmã voltasse (agora irmão), porque queria brincar com ela, porque queria partilhar histórias de meninas com ela. E isto era suportado pelos pais. E todos lá em casa continuavam a chamar o nome feminino. Apesar de, ao mesmo tempo, os pais apoiarem a transição fisica, acompanhando o filho nos medicos, operações, etc.

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  2. Egoísmo?!
    O tempo para pessoas trans pode significar a morte, em muitos casos é isso que o tempo e a sociedade em que vivemos lhes trazem e lhes dão; o tempo lhes é caro e urge.

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    1. Tens toda razão. Por isso serem "egoistas". E acho que fazem muito bem em só pensar neles. Porque o mundo ainda não quer saber deles.

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